terça-feira, 18 de novembro de 2008

Rachel de Queiroz, a primeira mulher na ABL

Estátua de Rachel na Praça General Tibúrcio, em Fortaleza.


Há 98 anos, em 17 de novembro de 1910, nascia uma grande escritora brasileira: Rachel de Queiroz - a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras e considerada por muitos a maior escritora brasileira.


Ela era filha de Daniel Queiroz Lima e de Clotilde Franklin de Queiroz, descendente pelo lado materno da família do escritor José de Alencar.


Em 1925 Estreou na imprensa no jornal O Ceará, escrevendo crônicas e poemas de caráter modernista sob o pseudônimo de Rita de Queluz. No mesmo ano lançou em forma de folhetim o primeiro romance, História de um Nome.


Aos vinte anos, ficou nacionalmente conhecida ao publicar O Quinze (1930), romance que mostra a luta do povo nordestino contra a seca e a miséria. Demonstrando preocupação com questões sociais e hábil na análise psicológica de seus personagens, tem papel de destaque no desenvolvimento do romance nordestino.


Na juventude apresentou tendências esquerdistas, sendo presa em 1937, em Fortaleza, acusada de ser comunista.


Já escritora consagrada, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1939. No mesmo ano foi agraciada com o Prêmio Felipe d'Oliveira pelo livro As Três Marias. Escreveu ainda João Miguel (1932), Caminhos de Pedras (1937) e O Galo de Ouro (1950).


Sua eleição, em 4 de novembro de 1977, para a cadeira 5 da ABL causou certo frisson nas feministas de então. Mas a reação da escritora ao movimento foi bastante sóbrio. Numa entrevista, em meio ao grande furor que sua nomeação causou, declarou: "Eu não entrei para a ABL por ser mulher. Entrei, porque, independentemente disso, tenho uma obra. Tenho amigos queridos aqui dentro. Quase todos os meus amigos são homens, eu não confio muito nas mulheres."


Lançou Dôra, Doralina em 1975, após lançou Memorial de Maria Moura (1992), saga de uma cangaceira nordestina adaptada para a televisão (Rede Globo) em 1994. Publicou um volume de memórias em 1988.


Morreu de problemas cardíacos, no seu apartamento, dias antes de completar 93 anos.


Principais obras

  • O quinze, romance (1930)
  • João Miguel, romance (1932)
  • Caminho de pedras, romance (1937)
  • As três Marias, romance (1939)
  • A donzela e a moura torta, crônicas (1948)
  • O galo de ouro, romance (folhetins na revista O Cruzeiro, 1950)
  • Lampião, teatro (1953)
  • A beata Maria do Egito, teatro (1958)
  • Cem crônicas escolhidas (1958)
  • O brasileiro perplexo, crônicas (1964)
  • O caçador de tatu, crônicas (1967)
  • O menino mágico, infanto-juvenil (1969)
  • Dora, Doralina, romance (1975)
  • As menininhas e outras crônicas (1976)
  • O jogador de sinuca e mais historinhas (1980)
  • Cafute e Pena-de-Prata, infanto-juvenil (1986)
  • Memorial de Maria Moura, romance (1992)
  • Teatro, teatro (1995)
  • Nosso Ceará, relato, (1997) (em parceria com a irmã Maria Luiza de Queiroz Salek)
  • Tantos Anos, auto-biografia (1998) (com a irmã Maria Luiza de Queiroz Salek)
  • Não me deixes: suas histórias e sua cozinha, memórias gastronômicas (2000) (com Maria Luiza de Queiroz Salek)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Prepare-se para a nova língua portuguesa

A partir do início de 2009, fique atento: entra em vigor em janeiro o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que prevê a padronização ortográfica entre todos os países da língua portuguesa.

A reforma ortográfica vem sendo discutida desde 1990 pelos países que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP): Brasil, Portugal, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor Leste.


O Brasil será o primeiro país a implementar as regras oficialmente. Mas não se assuste: as mudanças serão feitas de forma paulatina, com um prazo de conclusão até o início de 2013. Durante os quatro anos de transição as as duas formas serão aceitas.


As mudanças devem atingir aproximadamente 0,5% das palavras adotadas no Brasil. Nos demais países as alterações podem alcançar 1,6%. As mudanças mais significativas estão relacionadas à acentuação de palavras, incluindo a extinção do trema.


Veja o que muda com a reforma


• O alfabeto passa de 23 para 26 letras, com a inclusão de “k”, “y” e “w”.


Acentuação


Acento agudo


• Eliminação do trema. Exemplo: bilíngue. Só será mantido em palavras estrangeiras, como Hübner.


• Nas paroxítonas desaparece o acento agudo dos “i” e “u” tônicos depois de ditongos. Exemplo: feiura.


• Não leva acento o “u” tônico de formas rizotônicas dos verbos arguir e redarguir. Exemplo: arguem.


• O acento agudo de palavras paroxítonas com ditongos abertos “éi” e “ói” deixam de existir. Exemplos: ideia e heroico.


• Fica facultativo o emprego de acento agudo na primeira pessoa do plural do pretérito perfeito, em diferenciação à grafia do presente do indicativo. Exemplos: amámos, cantámos.


Acento circunflexo


• Palavras terminadas em “ôo” deixam de ser acentuadas. Exemplo: voo.


• As formas verbais da terceira pessoa do plural terminadas em “êem” perdem o acento circunflexo. Exemplos: leem, veem.


• Ficam aceitas as duas formas: econômico/económico, acadêmico/académico, fêmur/fémur.


Grafia


• A reforma aceita duplas grafias em algumas palavras se elas forem pronunciadas tal como são escritas. Exemplo: facto/fato.


Hífen


• Expressões que perderam a noção de composição devem ser grafadas sem hífen. Exemplo: mandachuva, paraquedas.


• Emprega-se o hífen quando a segunda palavra começa com “h” ou quando inicia com a mesma vogal que encerra a primeira. Exemplo: pré-história, super-homem, micro-ondas.


• Exclui-se o hífen quando a segunda palavra inicia com “r” ou “s” ou com vogal diferente da que encerra a primeira. Ex.: antissemita, antirreligioso, autoestrada. Exceção: quando o “r” vem do prefixo (hiper, inter, super). Exemplo: super-rápido.


Tema do amor por Gabriela


Todos os dias esta saudade, felicidade cadê você
Já não consigo viver sem ela
Eu vim à cidade pra ver Gabriela
Tenho pensado muito na vida
Volta bandida, mata essa dor
Volta pra casa, fica comigo
Eu te perdôo com raiva e amor


Chega mais perto, moço bonito
Chega mais perto meu raio de sol
A minha casa é um escuro deserto
Mas com você ela é cheia de sol


Molha tua boca na minha boca
A tua boca é meu doce, é meu sal
Mas quem sou eu nessa vida tão louca
Mais um palhaço no teu carnaval


Casa de sombra, vida de monge
Quanta cachaça na minha dor
Volta pra casa, fica comigo
Vem que eu te espero tremendo de amor


Do LP "Tom Jobim e Convidados", Philips/PolyGram, 1985.


quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Helena: o céu ao alcance das mãos


Helena Kolody (1912-2004), é a mais consagrada poetisa do Paraná.

Helena passou parte da infância na cidade de Rio Negro, na divisa com Santa Catarina, onde fez o curso primário. Estudou piano, pintura e, aos doze anos, fez seus primeiros versos. Seu primeiro poema publicado foi A Lágrima, aos 16 anos de idade, e a divulgação de seus trabalhos, na época, era através da revista Marinha, de Paranaguá.

Aos 20 anos, Helena iniciou a carreira de professora do Ensino Médio e inspetora de escola pública. Lecionou no Instituto de Educação de Curitiba por 23 anos.

Seu primeiro livro, publicado em 1941, foi Paisagem Interior, dedicado a seu pai, Miguel Kolody, que faleceu dois meses antes da publicação.


Helena praticava principalmente haicai, uma forma poética de origem japonesa, cuja característica é a concisão - ou seja, a arte de dizer o máximo com o mínimo. Foi a primeira mulher a publicar haicais no Brasil, em 1941.

Foi admirada por poetas como Carlos Drummond de andrade e Paulo Leminski, com quem teve uma grande relação de amizade pessoal e literária.

Dona de uma enorme coleção de adjetivos-virtudes, palavras-emblemas, atribuídos a ela pelo povo paranaense, Helena deixou uma obra, que na qualidade lembra outra grande poeta: Cecília Meirelles. O amor que ela conquistou pelos poemas, pelos livros, juntou-se à lira de sua poesia feita de canções à vida, da solidariedade, da natureza e a inquietude da condição humana.


Alguns haicais de Helena

Poesia mínima
Pintou estrelas no muro
e teve o céu
ao alcance das mãos.


Último
Vôo solitário
na fímbria da noite
em busca do pouso distante.


Aplauso
Corrida no parque
O menino inválido
Aplaude os atletas.


Alegria
Trêmula gota de orvalho
presa na teia de aranha,
rebrilhando como estrela.


Flecha de sol
A flecha de sol
pinta estrelas na vidraça.
Despede-se o dia.


Ipês floridos
Festa das lanternas!
Os ipês se iluminaram
de globos de cor-de-ouro.


Qual?
Damos nomes aos astros...
Qual será nosso nome
nas estrelas distantes?


Manhã
Nas flores do cardo,
leve poeira de orvalho.
Manhã no deserto.